domingo, 14 de julho de 2013

O Bom-Bim-Bom do Brasil


Hoje fui às compras. Comprei o Brasil de volta. Mas só o que há de bom nele. O de ruim dei de esmola aos políticos corruptos que já estavam de partida. Eles levaram muita coisa, é verdade, principalmente a Própria Incompetência (para o que não se referisse a encher os próprios bolsos). Mas não é só ela que vai cuidar deles. Fiz questão que levassem também a Injustiça, que prometeu auxiliá-los em desavenças futuras. Fiquei tranquila porque sei que ela é como a irmã que aqui ficou, "tarda mas não falha". Gastaram os últimos quinhões de felicidade que lhes restavam pensando terem levado a melhor, já que a irmã que ficou é cega. Dignos de Pena. Aliás essa também foi, porque aqui ninguém mais vai ter pena de ninguém. Levaram a Ignorância, que não saberia mesmo viver longe deles. Cá entre nós, acho que é recíproco. Vendo-a ir, o Desemprego também foi, pois ainda é um bebê de peito. Aliás, lá ele vai crescer forte e implacável na companhia de quem o criou, o Capital. Aliás este, meio estabanado, quando voltou para buscar a senhora sua mãe - a D. Ganância - esqueceu a carteira e todo o seu dinheiro para trás. Mas os políticos corruptos nem viram isso, entretidos que estavam em ajudar o Capital a levar sua mãe nos braços. E como é pesada essa mala sem alça! Com isso, levaram também todo o nosso estoque de Angústia e Aflição. Embalei uma a uma em travesseirinhos, assim eles podem não-dormir no aconchego de seus próprios desertos morais. Mas chega de falar do que se foi. Agora é curtir o que ficou e cuidar do que faremos a partir disso.


Pra começar, ficou a arte. Mas não arte vazia que se quer vendida, e só. Ficou a Arte do Cotidiano, de driblar a bola entre o tempo de um pé e outro que o olho não vê e a trave ajeita; a arte de trabalhar com prazer e dor - sim a dor ficou, pois não há esforço nem progresso sem a dor leve de quem está a crescer. Mas é dor com letra minúscula, dorzinha feliz de um país capaz de se virar em duplo twist carpado para viver e sorrir. Ficou a arte de esforçar-se para criar múltiplos e diversos entendimentos. A arte de estudar, estudar até mesclar a voz ao violão de modo tão único que recebe nome próprio: Bossa Nova. A arte de fazer o novo e a bossa, sem dar as costas ao que é velho quando é de valor. Não um valor determinado pela "ordem estabelecida", mas um valor produzido pelos neurônios que trabalham em um corpo que insiste em existir entre e com os outros, nesse mundo concreto de alma verde e amarela que é o Brasil.

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