Hoje
fui às compras. Não comprei uma casa, mas modos de habitar. Muitos querem
vendê-los, como se isso fosse possível. Penso que os construímos todos os dias, mesmo não
tendo construído a casa. Tudo bem, concordo que às vezes é mais fácil quando se
a constrói, mas nem sempre.
Morar
não é o mesmo que habitar. A diferença entre eles começa justamente porque um
pode ser comprado, o outro, não. Podemos comprar as coisas, não o conforto ou a
beleza de sua disposição conjunta. Podemos comprar as janelas, mas não o vento
que as faz vivas. E a vista, por assim dizer. Essa então, mesmo pagando
à vista pode nunca valer o preço, ou ser logo perdida. É uma questão de sorte,
que também não se compra. Compra-se apenas a ilusão dela, em bilhetes baratos.
Habitar
demanda ação. Quem dera existisse mesmo um Plano Habitacional que nos tornasse cientes de nossas responsabilidades mediante uma assinatura e um carimbo.
Valeria até a pena ficar em fila e pagar a conta disso em suaves prestações... Mas o
habitar vai além da moradia, não demanda esforço só de dinheiro. É preciso
dar-se conta, mais do que ter uma conta. É preciso render-se ao esforço, mais
do que esforçar-se para render. É preciso envolver-se para se desenvolver.
Envolver-se consigo mesmo e com a produção de seus desejos, mais do que
desejar algo pronto, externo ao seu próprio Eu. O fortalecimento deste não é sem o
que lhe é exterior, que chega a ser imprescindível àquele. Mas o foco está na relação, e esta se organiza em torno do envolvimento, do habitar, da excelência de sua essência.
p.s. A foto é da casa de Charles Dickens, Bloomsbury, London, UK.
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