domingo, 3 de fevereiro de 2013

Episódio 2



Hoje fui às compras. Não comprei uma casa, mas modos de habitar. Muitos querem vendê-los, como se isso fosse possível. Penso que os construímos todos os dias, mesmo não tendo construído a casa. Tudo bem, concordo que às vezes é mais fácil quando se a constrói, mas nem sempre.

Morar não é o mesmo que habitar. A diferença entre eles começa justamente porque um pode ser comprado, o outro, não. Podemos comprar as coisas, não o conforto ou a beleza de sua disposição conjunta. Podemos comprar as janelas, mas não o vento que as faz vivas. E a vista, por assim dizer. Essa então, mesmo pagando à vista pode nunca valer o preço, ou ser logo perdida. É uma questão de sorte, que também não se compra. Compra-se apenas a ilusão dela, em bilhetes baratos.

Habitar demanda ação. Quem dera existisse mesmo um Plano Habitacional que nos tornasse  cientes de nossas responsabilidades mediante uma assinatura e um carimbo. Valeria até a pena ficar em fila e pagar a conta disso em suaves prestações... Mas o habitar vai além da moradia, não demanda esforço só de dinheiro. É preciso dar-se conta, mais do que ter uma conta. É preciso render-se ao esforço, mais do que esforçar-se para render. É preciso envolver-se para se desenvolver. Envolver-se consigo mesmo e com a produção de seus desejos, mais do que desejar algo pronto, externo ao seu próprio Eu. O fortalecimento deste não é sem o que lhe é exterior, que chega a ser imprescindível àquele. Mas o foco está na relação, e esta se organiza em torno do envolvimento, do habitar, da excelência de sua essência.

p.s. A foto é da casa de Charles Dickens, Bloomsbury, London, UK. 

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