Este blog fala de coisas transcendentais, ou seja, das coisas simples que nos fazem ir além de nós mesmos - e do lugar em que nossa realidade nos insere - para construirmos, inventarmos, reeditarmos modos de vida, procedimentos, regras, abordagens, conceitos, compreensões. Como a leitura. Não podemos nos confundir: compram-se livros, mas a leitura é uma construção muito particular, ainda que permeável ao, favorecida pelo, e instigadora do diálogo.
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
Esgotamento
Hoje fui às compras. Comprei esgotamento. Assim, sem artigo definido ou indefinido. Puro em sua mistura de sentidos. Esgotamento remete à ideia sanitarista de canalizar restos, delineando seus limites mas assumindo seu direito de fluir. Nem sempre esse fluxo tem um conteúdo tratado, trabalhado, transformado. Do esforço de transformação brotam outros sentidos para esgotamento. Esgotamento enquanto escoamento, destinação. Esgotamento precedido por descarga, já que um não é sem o outro, mas onde a descarga não representa finalidade, apenas; sob pena de tornar-se fetiche. A descarga é princípio, não necessariamente início, de um percurso que não termina. Princípio que não é sem o que representa: a possibilidade de não largar restos a céu aberto virando sintomas. Sem trabalho, esgotamento vira oximoro e carrega em si seu contrário: o esgotamento da capacidade de transformação. Trabalhar o escoamento em forma e conteúdo possibilita aos sujeitos desviarem-se das determinações da natureza através de percursos por eles inventados, cujos efeitos remetem à construção de possíveis novos modos de vida.
Obs.: A foto é obra de uma colega que pratica a arte da engenharia com amor. A área do aglomerado linearmente contígua ao cemitério será transformada em uma via com esgotamento e drenagem. Bairro Cabana, BH, 30/10/2013.
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