terça-feira, 29 de outubro de 2013

Bolsa-sem-alça


Hoje fui às compras. Comprei uma bolsa-sem-alça. Não, não é o diminutivo de mala-sem-alça, mas um dispositivo pela emancipação. E nem mesmo é sem alça, pois tem três, e todas podem ser usadas - ou não. O que começou sendo feito em lona, agora existe também em couro, falso ou verdadeiro, à escolha. Assim, acompanha a roupa menos esportiva de quem trabalha e se diverte com elegância, num esquema 24x7, tudo-ao-mesmo-tempo-agora. Uma releitura que prova ser possível a qualquer um tornar-se melhor com o tempo. Mas como tudo o que é pós-moderno costuma ter pelo menos dois lados, o valor da sem-alça-três-alças reside não tanto no objeto em si, ou no que representa, mas no efeito que provoca: hands free. Agora as mãos são livres para tirar foto, usar o smartphone, retocar o make, concentrar-se no e-book, atravessar a rua com os kids e dar um super hug no love sem nocaute. (Só quem já levou trombada de bolsa sabe como atrapalha um abraço.) Ao contrário da velha bolsinha-de-catar-amora - em que nada cabe e ainda sequestra uma das mãos - o nome desse artefato em inglês é crossbody bag. De fato, representa bem uma cruzada. Uma cruzada que as mulheres empreenderam através do tempo. Pensar que, em cem anos, passaram de seres que sequer tinham o direito de votar a sujeitos que têm direito de escolha. O direito de não ser nem ter mala-sem-alça na vida. O direito de ter as mãos livres para escolher crescer.

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