Hoje fui às compras. Comprei um bedelho.
Só para poder metê-lo onde não devo. E como não devo nada a ninguém, vou meter
o bedelho dos dois lados.
Trata-se do futebol. Quem me deu o passe
foi o Sérgio Rodrigues* e, antes que a Copa acabe, vou levantar essa bola de uma vez. O
Sérgio disse no Manhattan Connection, agora há pouco**, que pensa se não se deveria acabar com o impedimento, argumentando que é
estruturalmente impossível para as mulheres entenderem essa regra do futebol.
Devo dizer, Sérgio, que por um lado
concordo com você e, por outro, não; mas não por esse motivo. As mulheres, se
quiserem, podem entender essa regra perfeitamente, do contrário, não poderiam
jogar e não teríamos Marta. Mas, em se tratando da maioria, digo
o motivo pelo qual acredito que seria possível defendermos o fim do impedimento: porque é
chato.
Entrando numa área onde não costumo me
aventurar, devo dizer que o impedimento é uma vingança masculina. Sabe aquele momento, no meio do amasso, quando elas driblam vocês e às vezes até jogam para escanteio?
Aliás, seria esse um dos motivos da mão ser "boba" no futebol? (Acho que Freud explica casos assim como "o retorno do recalcado", afinal, foram os homens que criaram essas regras...) E então, em contrapartida, naquela hora em que a gente se anima no sofá, o ritmo tá quente, quase lá... impedimento. Que coisa desagradável. Ficamos
decepcionadas, xingamos, largamos de lado, mas, vocês... reagem naturalmente. Não sabem como irrita ver que já sabiam que aquilo tudo não ia dar em gol!
Entendo que o argumento do Sérgio para o fim do
impedimento tinha o intuito de provocar uma maior identificação do público feminino,
mas, segundo Wisnik***, há quem diga**** que o goleiro representa a figura feminina no futebol, defendendo um espaço restrito que dez homens querem invadir quase ao mesmo tempo, o tempo todo. Se assim for, a figura
feminina já está representada em campo, Sérgio, as mulheres é que talvez ainda não tenham se ligado na coincidência: o goleiro é
fundamental, e o impedimento, seu maior aliado.
Justamente por isso, troco de camisa e
entro em campo no segundo tempo para defender o impedimento. Se o gol é a
soberania representada simbolicamente pela rede invicta e o impedimento não
existisse, os placares seriam uma devassidão.
Nessa bola dividida, podemos pensar é em
exportar o impedimento para outros campos. Já pensou se passarmos a praticá-lo
na política como o fazemos no futebol, ou seja, interrompendo as jogadas ilegais antes do
gol ser feito? Ahhhh, a gente ia era meter o ferrolho em muita gente!
** 06/07/2014, no canal GloboNews.
*** José Miguel Wisnik é músico e escritor, autor de "Veneno Remédio: o Futebol e o Brasil", 2008, Cia das Letras.
**** Wisnik alude a isso fazendo referência ao ensaísta espanhol Vicente Verdú. http://oglobo.globo.com/cultura/o-oraculo-13139125?topico=Jose-Miguel-Wisnik
**** Wisnik alude a isso fazendo referência ao ensaísta espanhol Vicente Verdú. http://oglobo.globo.com/cultura/o-oraculo-13139125?topico=Jose-Miguel-Wisnik
Nenhum comentário:
Postar um comentário