sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Stand Up Poetry



Hoje fui às compras. Comprei  ingresso para o prazer de ouvir alguém dizer uma poesia com humor. “Gastei uma hora pensando em um verso que a pena não quer escrever”(1). Como não rir dessas nossas pequenas tragédias, se bem ditas; tão mais instigantes que os dramas cotidianos cujas piadas nada acrescentam à nossa “ignorãça”(2).  A via do humor é mesmo um dos caminhos para a consciência, mas precisa ser um humor tão raso? “Ocupo muito de mim com o meu desconhecer”(2). Ocupar-se é diferente de distrair-se, de evadir-se para um estado de negação.  Não dá para fugir é de arrepender-se do tempo perdido. Mas, para isso, também é preciso ter consciência. “Fiz de mim o que não soube e o que podia fazer de mim não o fiz”(3). Mesmo rasos, a comédia em pé, os seriados, os avatares digitais não nos eximem da tragédia que representam. Como diz Wisnik, “diante da tragédia, não faça drama, a tragédia é um outro gênero.”(4) 

Parece-me melhor a tragédia da incerteza que o drama da ignorância.


“Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos! [...] 
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas! 
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?”(3)

Notas:

A foto é do The Old Vic, teatro londrino onde diversão, cultura e civilização aninham-se em camadas. Ocupam "o mesmo ponto, sem superposição nem transparência", como diz Borges (5).

(1)    ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia. In:___. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 2002.
(2)    BARROS, Manoel de. XXI. In:___. O livro das ignorãças. Disponível em http://comvest.uepb.edu.br/concursos/vestibulares/vest2013/Manuel_de_BarrosO_Livro_Das_Ignoracas.pdf
(3)    Poema Tabacaria, de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos), disponível em http://arquivopessoa.net/textos/163
(4)    José Miguel Wisnik, em palestra disponível em http://www.youtube.com/watch?v=jXmfFv2iEUY
(5)   Jorge Luis Borges, no conto "O Aleph", disponível em http://epoca.globo.com/edic/657/657_trecho_O_Aleph.pdf

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