Hoje
fui às compras. Comprei uma passagem. Não um lugar numa nau, mas um percorrer, um estar-a-viajar. Uma passagem de graça, para a graça nada gratuita de embarcar num transtemporal atracado na Pça 7. Transformidável,
temperado de cores e Drummonds para apimentar e tirar lágrimas dos olhos.
Transabsoluto, advindo do Cais de Pessoa, para onde se está sempre de partida.
Transôntico, recheado de objetos e estruturas transcendentais. Transposto,
transpirado. Transklimt, transpicasso. Transfluido, mas de um concreto
transantecipado de um Brutalismo Baumgartiano que inspira. Na fluidez do concreto, uma duração.
Na precisão de uma vida, um Portinari. Na dureza do mundo, uma multidão.
p.s. A imagem é do Friso Beethoven, que Klimt pintou em 1902. Como não ver em Guerra e Paz esses cabelos, essa profusão, esse aprendizado? Como não ver Guernica, em Guerra, e Alegria, na Paz? Como aprender com os mestres sem esquecer que "a realização mais suprema e rara consiste não em descobrir o desconhecido, mas em explorar a existência diária, as possibilidades abertas a todos para a máxima riqueza de seu potencial de realização enquanto ser humano"? É, Nietzsche, infelizmente você não viu, mas assim pintou Portinari.