Hoje fui às compras. Esbaldei-me:
comprei metáforas. Para bom entendedor, um pingo é letra, e queremos por os
pingos nos is e um ponto final nos gestos vazios. Já não suportamos mais essa
ideologia liberal de "vitimância", que reduz a política a um programa
de meramente adiar o pior fazendo o mínimo, renunciando ao que possa de fato favorecer
transformações em nossas realidades. Nosso ponto não é, contudo, um ponto
final, é um "Ponto, parágrafo."
Sendo já bem conhecida a inépcia
dos psicóticos para lidar com metáforas, facilitemos a compreensão disso para
aqueles que constroem realidades paralelas e nelas se refugiam criando
procedimentos - burocráticos - que os ajudam a evitar o que existe. Precisamos
de cura é para vocês, psicóticos no poder, que só escutam o que querem, erram o
alvo, trocam os pés pelas mãos e, quando são encurralados, ou fogem ou suicidam-se.
"20 centavos" não
correspondem apenas ao aumento na tarifa de ônibus, mas ao que resta da nossa
paciência. Aprendam rápido a fazê-los render, ou poderão vê-los transformados
em "Tolerância zero". Não suportamos mais as humilhações a que nos
deixamos submeter por tanto tempo. O medo do que há de vir não nos impede mais
de enfrentar um cinismo que já dura quinhentos anos. Nossas escolas precisam
nos capacitar a fazer escolhas, a fortaceler a produção crítica em forma,
conteúdo e presença. Sem esse engajamento, não há desenvolvimento. O
desenvolvimento que queremos não é, como vocês adorariam que fosse, o contrário
de envolvimento. O tempo de "eles dizendo para nós como queremos viver"
acabou. Ponto, parágrafo. Queremos uma pele firme e flexível que nos envolva
individual e coletivamente, que nos favoreça o crescimento intelectual e
produtivo no exercício de nossos direitos e no cumprimento de nossos deveres
como seres humanos e cidadãos. Não há atalho para esse processo. Queremos
provocar o terror, não a violência. Queremos que tenham medo de perderem suas
cabeças, como nós temos de perder a vida por "20 centavos" todos os
dias. E que vivam com isso. E que trabalhem apesar disso. E que trabalhem bem.
Sim, viver implica trabalho, inquietação. Uma inquietação que combate a petrificação,
pois a inquietação é a própria vida. Sim, Zizek, vivemos em tempos de por
pontos finais naquilo com que não queremos mais viver. Em tempos a um só tempo
interessantes e difíceis, tempos de múltiplos e diversos novos inícios. Tempos
plurais para os quais não queremos cura. E quanto à velha escolha entre a bolsa
e a vida; sim, escolhemos a vida e a escolha. Ponto, parágrafo.
p.s A referência a Slavoj Zizek remete ao seu livro "Living in the end times", traduzido no Brasil como "Vivendo no fim dos tempos". Ora, não estamos vivendo no fim dos tempos, mas sim, no tempo dos fins. Acho que é isso o que ele quer dizer.
p.s A referência a Slavoj Zizek remete ao seu livro "Living in the end times", traduzido no Brasil como "Vivendo no fim dos tempos". Ora, não estamos vivendo no fim dos tempos, mas sim, no tempo dos fins. Acho que é isso o que ele quer dizer.
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