sexta-feira, 31 de maio de 2013

Oximoro

Hoje fui às compras. Comprei uma biblioteca-anti-biblioteca. Claro que não se chama assim. Li tudo o que consegui sobre o equipamento antes, mas nada falava que sua característica mais sombria era esse oximoro que seu nome mostra, mas não evidencia. Um nome que sugere exatamente o contrário do que parece dizer.

Podemos consultar o dicionário sem esforço ao longo da leitura, é verdade, e mesmo uma enciclopédia on-line, mas não podemos tirar xerox de uma página para rabiscar comentários com nossa própria letra. Não pagamos frete de nada, mas não podemos inserir nele uma de nossas relíquias celulósicas que queremos ler em condições adversas de iluminação; situação para a qual esse equipamento mostra-se realmente inigualável.   

Podemos ter acesso a um conteúdo gratuito, é verdade, e isso pode ser suficiente para uma vida inteira. Mas ache um livro que pode interessar a mais alguém além de você, e poderá compartilhar fragmentos nas redes virtuais, mas não emprestá-lo, pois isso significaria emprestar sua biblioteca inteira de uma vez só. Ora, ninguém quer isso! Nem você, nem o outro! Mas aquela alegria de dizer ao colega "Tenho um livro que vai te interessar, vou trazê-lo para você!" ou fazer simplesmente uma surpresa com algo que você acha que vai agradar; isso terminou. Para lê-lo, ele terá que comprá-lo. A biblioteca de quase 500 volumes que carrego no bolso do casaco não pode ser emprestada para ninguém. O máximo que posso fazer é propaganda não remunerada de conteúdos que acumulo só para mim.


p.s. O oximoro é uma figura de linguagem que torna vizinhas palavras que se opõem, como "infiel fidelidade", por exemplo. A inquietante estranheza da modernidade não poupa nem esses redutos que ainda guardavam algo da importância da reunião, do diálogo e da alegria of kindly sharing.

domingo, 26 de maio de 2013

E-map-book


Hoje fui às compras. Comprei um equipamento que ainda não existe, a não ser nos meus sonhos. Ele funciona assim: é um livro eletrônico, mas tem hiperlinks com os mapas digitais. Do mesmo modo que no e-book clicamos em uma palavra e a consultamos no dicionário, nesse e-map-book clicamos no nome de uma rua e podemos vê-la no mapa através dos tempos. Isso seria feito por meio de fotos, ilustrações, vídeos daquela rua tanto da atualidade quanto da época do texto que estamos lendo, e que tenham sido adicionadas por usuários voluntários (uma aplicação bem simples para popularizar o Volunteered Geographic Information, sem deixar de ligá-lo à cultura). Desse modo, podemos deixar geocatches para serem achados no espaço e no tempo! Assim, quando Peter Ackroyd conta-nos sobre a vida de Thomas Morus, podemos visitar a Milk Street, onde ele nasceu, em Londres, no próprio século XV, no século XIX, também mencionado por Ackroyd, ou na atualidade. Mas esse e-map-book que comprei vai além disso. Como teriam sido georeferenciadas as ruas citadas em todos os livros, poderíamos fazer a pesquisa inversa e saber que autores, em que livros, fizeram menção a uma rua pela qual nos encantamos ou estamos interessados de algum modo. Adoro comprar equipamentos que ainda não existem. Quando eu tinha 14 anos, comprei um que me permitia trilhar o caminho preferencial em relação às condições da pavimentação, engarrafamentos (que ainda não eram um problema do tamanho que são hoje), mão de direção e menor distância. Na verdade, esse funcionava melhor que os GPS disponíveis atualmente no mercado. Mas é claro, pois a fantasia não tem que lidar com as dificuldades da realidade, a alimentação e atualização de banco de dados na imaginação é sempre automática... e o cartão de crédito criativo tem fartura, mas não fatura...