sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Nome científico




Hoje fui às compras. Comprei um nome científico para a doença cuja prima – já bem conhecida – atinge o corpo, silenciosa e traiçoeiramente. Esta também faz isso, mas começa pela mente. Se tivermos sorte, talvez um dia possamos encontrá-la no Wikipédia assim:

Diabesta mallocus – Doença metafísica caracterizada por um aumento da desorganização mental. A mente é a principal fonte de energia psíquica do organismo, porém, quando essa energia se apresenta extraordinariamente desorganizada, sem destinação nem esgotamento, pode trazer várias complicações. É a capacidade psíquica que possibilita ao sujeito trabalhar sobre as emoções e os sentimentos a partir das ações de seu intelecto. Entre os efeitos desse desequilíbrio podem-se citar o excesso de agressividade – latente ou manifesta, a incapacidade de lidar com frustrações, problemas de relacionamento consigo próprio e com os outros, no trabalho, no amor. Quando não enfrentada adequadamente, o quadro pode evoluir produzindo “ataques de nervos”, histeria, depressão, melancolia, lesões emocionais de difícil cicatrização e tratamento; além de possivelmente transmissíveis. Embora não haja cura definitiva para o (a) Diabesta, há vários recursos disponíveis que, se o sujeito tiver vontade e coragem pra querer, possibilitam mais qualidade de vida. É uma doença bastante comum, mas muitos pacientes desconhecem ou negam a possibilidade de serem portadores desse mal-estar que afeta muito mais que a si mesmos.

p.s. A foto e o sobrenome mostram que a Diabesta manifesta-se também através do solo sobre o qual se assenta uma sociedade com alta taxa de infestação. Nele, as lesões  sorrateiras incluem os escorregamentos; as lesões oclusas, a contaminação e extermínio das nascentes. Isso tudo acontecendo no fundo dos lotes, no fundo dos vales, no fundo do intelecto já tão parcelado e desmembrado desse sujeito urbano que somos nós.
Bairro Paraíso, Belo Horizonte, 18-12-2013